Foi no dia 20 de Julho que saiu a nota da minha última avaliação, o projecto final de licenciatura, e foi a partir desse dia que posso dizer "passei a ser Geólogo".
Imaginei escrever bastante sobre este momento. No entanto, parece que nada me ocorre... Estou muito feliz.
Na vida a aquisição de conhecimento é constante, qualquer meta ou barreira é mera ilusão, por isso, posso afirmar que serei sempre um Proto-Geólogo, um Geólogo em constante construção.
Obrigado a todos, os que contribuíram para tornar este sonho uma realidade.
Foi com muito prazer que eu e o meu grupo de projecto conseguimos levar a cabo o tema de projecto " Cristaloquímica de minerais portadores de elementos das terras-raras (±Ba) em contextos litológicos diversos", a última avaliação da minha licenciatura. Os objectivos deste trabalho passaram pela caracterização dos padrões de distribuição de elementos das terras-raras (ETR) em minerais portadores destes elementos, em rochas granitóides do Centro de Portugal e em rochas metassomáticas ao depósito de Bayan Obo (Mongólia Interior - China) e comparação desses padrões com os padrões de ETR da rocha-total, no sentido de tentar verificar quais destes minerais afectam predominantemente estes padrões na rocha. Para tal, foi feita petrografia, onde se definiu quais os minerais a serem analisados pela microssonda electrónia, com fim a conhecer a sua composição elementar. Estes minerais foram: monazite, zircão e xenótimo, nas rochas granitóides de Portugal e monazite, fluorcarbonatos (bastnäsite e cebaíte), pirocloro e os minerais do grupo da hejtmanite-bafertisite, nas litologias de Bayan Obo. Realizamos a nossa apresentação oral aos nossos colegas e júris no dia 17 de Julho e obtivemos a nossa classificação dois dias depois, com uma nota que nos agradou bastante.
Foi também no seguimento deste trabalho que nos foi proposto submeter um
resumo do projecto para o XI congresso de Geoquímico. Fomos aceites e iremos no
dia 25 a 28 de Setembro apresentar oralmente este nosso trabalho em Linares
(Xaém - Espanha), concorrendo assim para o prémio de jovens
investigadores.
Será a nossa primeira grande experiência no mundo da investigação. Vamos orgulhosamente representar a nossa instituição,
esperando que os júris e os presentes gostem do trabalho realizado.
Esta tarde, dia 19 de Abril de 2017, durante um trabalho de Cristaloquímica em minerais portadores de Elementos de Terras Raras, descobrimos vários minerais de Zircão (cortados em secção basal) numa das lâminas delgada de Granito.
Consegui-se observar com recuros à microssonda electrónica JEOL JXA 8200, sediada no Departamento de
Geologia da FCUL alguns deles possuíam esta peculiaridade... Um núcleo negro com este padrão de zonamento em sua volta.
Imagem da seção basal dos zircões no monitor da microssonda electrónica (20 micrómetro)
Tem-se a certeza que é Zircão pela análise feita com o espectrómetro de dispersão de energia (EDS) embutido na microssonda.
Depois da saída de Ambientes Sedimentares realizada em Santa Cruz decidimos fazer lâminas delgadas das amostras rochas recolhidas nas sequências turbidíticas. Este trabalho tem por fim caracterizar à escala microscópica os arenitos finos e siltítos. Em breve irei realizar um post mais detalhado sobre este afloramento.
As lâminas delgadas foram realizadas nos laboratórios do departamento de Geologia da Faculdade de Ciências. Cortei as amostras com recurso a uma serra eléctrica e a restante preparação ficou a cargo da responsável destes laboratórios.
Adicionar legenda
Para podermos usar estas serras temos de ter obrigatoriamente equipamento de seguranças, como óculos, botas e abafador de ruído. As luvas não são necessárias visto que esta serra em específico não corta a pele (mesmo que passemos o dedo por ela). Como a é necessário a utilização de água para o corte das rochas, deve-se usar também vestimenta impermeável.
A nossa turma de Ambientes Sedimentares (ramo de recursos naturais) teve uma saída de campo de 3 dias à zona de Santa Cruz no dia 22 de Março de 2017. Percorremos 4 km de zona costeira desde a Praia do Amanhã até à Praia Azul. Com as explicações do Professora Pimentel foi-nos possível ir observando diferentes ambientes fluviais e suas associações litológicas. Estes ambientes são vários, desde canais entrançados, turbiditos e canhões submarinos de material terrígeno.
Canhão de Mateiral terrígeno
Sequência turbidítica (séries de bouma) Alterância de siltítos e arenitos finos
Sequência turbidítica, alternância de siltítos e arenitos finos
As unidades em estudo encontram-se na Bacia Lusitaniana. Esta bacia sedimentar desenvolveu-se na Margem Ocidental Ibérica durante o Mesozóico e formou-se durante a abertura do Atlântico Norte resultado da fragmentação da Pangeia.
As sequências Turbidíticas são de idade Kimmeridgiano da época Jurássica Superior e pertencem à formação da Abadia. Por vezes é possível observar alguns fósseis como gastrópode, bivalves e amonites. Ocorre algum carvão fossilizado.
Paisagem tipicamente Alentejana, peneplanícieresultante de todo um processo
erosivo que perdura à milhões de anos.
No dia 05/05/2017 realizou-se no âmbito da disciplina de Geodinâmica Química, cadeira de 4º ano, segundo semestre da licenciatura em Geologia (Ramo de Recursos Naturais) a última saída de campo. Foi um saída muito emocionante, não apenas por ser a última do curso mas por termos conseguido ver diferentes tipos de rochas, para mim mais exóticas!
Pequena "aula" da Geologia Regional (Vila Boim)
Já tinha estado a trabalhar na zona (Viana do Alentejo) mas desta vez consegui ver muitos mais afloramentos e entender melhor a Geologia regional, não só por já possuir mais "bagagem" geológica como também pelas explicações do professor que nos acompanhou.
Percorremos vários quilómetros ao longo de todo o distrito de Évora e Beja, fazendo várias paragens como Viana do Alentejo, Ferreira do Alentejo, Montemor-o-Novo, Cabeço de Vide, Alter Pedroso, entre outras. Na passagem por Estremoz, pernoitámos no centro de Ciência Viva Estremoz.
Corte de mármore diopídicos (Mármores verdes de Viana, câmbrico)
com granada e intrusões básicas
Podemos ver diferentes manifestações de metamorfismo regional e local que ajudam a encaixar os diferentes estágios da deformação Varisca em Portugal e o seu resultado na "soldadura" dos diferentes terrenos tectónico-estratigráficos- Ossa Morena e a Centro Ibérica.
Segue-se agora algumas fotos dos momentos que considerei mais especiais!
Granada encontrada perto de rochas meta-básicas Devónicas,
perto de Barragem de Odivelas, Ferreira do Alentejo.
Ribeira Almansor em Montemor-o-Novo.
Migmatitos na Ribeira de Almansor em Montemor-o-Novo.
Rocha Ultramáfica (Dunitos) com evidências de uma falha
(estrias no espelho de falha), em Cabeço de Vide.
Rocha hiperalcalinas (Ordovícico) de Alter Pedroso, rica em anfíbola Riebeckite e piroxena Aegirina, minerais sintomáticos de hiperalcalinidade.
Aceitei o convite de visitar uma fundição, um sítio que sempre quis visitar e sempre me suscitou alguma curiosidade. A geologia de recursos minerais, está de certa forma, relacionada com a área da Metalurgia, na medida em que, grosso modo, o geólogo descobre o minério e todo o domínio da metalúrgica trata da extracção, fundição e tratamento de ligas metálicas (no caso de minério de minerais metálicos).
Drenagem de metal líquido
A fundição é o processo, na metalúrgica, de fundir e colocar metal líquido num molde, de modo que quando este solidifica torna-se uma peça metálica com a forma desejada.
Existem várias fábricas especializadas em certas ligas metálicas, que permitem diferentes tipos de têmpera.
Minério concentrado de Crómio sem carbono
O material usado para a fundição na fundição a que fui usava tanto sucata, quando minério concentrado, este último poderia ser proveniente de vários países como África do Sul, México, Brasil ou Canadá. Na metalúrgica os nomes destes minérios concentrados pouco ou nada têm de semelhante com os termos do minério bruto que conhecemos em Geologia. Os minérios concentrados, como o nome indica, já possuem um certo refinamento e possuem percentagens bem definidas e normalmente diferem em termos de carbono pelo que podem ser minérios enriquecidos ou empobrecidos e assim varia o seu preço. De modo geral quanto maior o enriquecimento em carbono mais barato será o concentrado e menor a qualidade (dependente da peça que se pretende fabricar).
Processo de preenchimento dos moldes
Geralmente estas fábricas funcionam em regime nocturno, dado a enorme quantidade de energia eléctrica necessária para a fundição. Um dos métodos que fábrica que visitei usa para o processo de fundir é via eléctrodos. Como sabemos o preço da electricidade é mais barato durante o período da noite.
Este Blogue é direccionado para Geologia e assim sendo não irei abordar todos os passos e processos que envolvem os processos que vi e me foram explicadas em relação ao fabrico das peças produzidas.
Deixo um pequeno vídeo (desculpem a minha arte) que fiz, que ilustra de forma muito resumida as partes que considerei mais pertinentes da minha visita. Deste o material antes de fundir, a ser fundido e por fim as peças trabalhadas prontas a entregar ao cliente, que no caso são várias roldanas para a indústria petrolífera numa plataforma em off-shore.
Material fundido excedente do processo de moldagem
Agora... um pequeno desabafo...
.... Apenas referir o papel fundamental da Geologia para a sociedade. A maioria das pessoas olha para os Geólogos como sendo o pessoal dos "calhaus" ou "pedrinhas", de certa forma, menosprezado a Geologia. Na verdade, essas pessoas muito provavelmente desconhecem ou sem darem conta que a Geologia está na base de todos (ou quase todos) os bens materiais que dispomos e que muitas guerras são, já foram e vão ser (infelizmente) geradas pela luta de territórios ricos em recursos geológicos. A maioria das grandes potências económicas actuais devem a sua riqueza, grande parte, aos recursos geológicos que possuem. Tomando os exemplos do Brasil, rico em inúmeros recursos metálicos e petróleo (s.l); Emirados Árabes Unidos com a sua economia quase exclusivamente a depender do petróleo, é um dos países com maior PIB per capita do Mundo.
Foi no âmbito da disciplina de Tectónica do 4º ano, ramo de recursos naturais, que fomos visitar a pacata localidade de Almograve, a 200km de Lisboa, no conselho de Odemira, Alentejo Litoral.
Saímos do Campo Grande às 8h da manhã e chegamos perto das 11h ao nosso destino.
Explicações do Professor no Campo.
Durante a nossa visita percorremos uma vasta área ao largo da costa, onde íamos ouvindo o professor e tentávamos interpolar a geometria e evolução das estruturas presentes no terreno.
Nas rochas que se apresentavam extremamente deformadas. os dobramentos eram o mais evidente e fascinante. Nunca tinha visto nada assim! Segue-se uma pequena selecção de fotos tirados durante estes dois dias desta magnifica saída...
Dobra sinforma simétrica 1.1.
As rochas que vimos eram essencialmente metagrauvaques e pelitos, do paleozoico com +- 300Ma (período Carbónico) e era frequente conseguir-se distinguir com facilidade superfícies de fraqueza como clivagem (S1) e S2 muito penetrativo.
Dobra Sinforma assimétrica 1.2.
Secção de dobras sinforma, antiforma e isoclinal.
Dobra Sinforma erodida.
Fendas de tracção.
Dobramento do S1 resultando S2 em pelitos.
Superfícies S1 e S2 em pelitos.
Óxidos de ferro em areias do Cenozóico.
Caverna formada no eixo de uma dobra Antiforma.
Gostaria de Agradecer aos meus colegas da saída que de uma forma ou de outra contribuíram para que estes dias fossem tão especiais, em especial ao Diogo Carvalho por algumas fotos, ao Miguel Pessoa (também autor neste blogue) pelo excelente vídeo resumo da saída e claro ao professor que organizou a saída!
Numa saída de campo de dois dias ao Algarve com pessoal do departamento da GeoFcul, fomos ver uns possíveis depósitos de tsunami que se pensa ter resultado do mega evento sísmico do tão conhecido sismo de 1755. O local fica numa zona próxima do mar, num vale de fundo plano pouco encaixado, na localidade de Boca do Rio.
Vista de cima do local onde se encontram os depósitos.
Estes depósitos também designados por tsunamites, caso sejam onshore, resultam da reformulação de sedimentos causados por inundações da costa por ondas do mar geradas por tsunami, diferenciando-se dos sedimentos envolventes por diversas razões como sendo texturais, mineralógicas, palecológicos, entre outros.
Ainda não se tem certezas sobre a viabilidade destes depósitos, pois estes podem também ter outras possíveis explicações como grandes tempestades ou eventos erosivos/deposicionais de grande importância. Porém cada caso é um caso e com o devido estudo e colocando todos os factores em evidência poderá haver casos em que a causa tsunami será a mais plausível e assim sendo estas unidades sedimentares podem ser usados para medir o tamanho e data de tsunamis últimos anos e ajudar a avaliar o risco sísmico e o seu período de retorno.
Local de perfuração
Diversas técnicas são utilizadas para a recolha e observação destas unidades, uma das mais baratas é recorrer à força humana e perfurar, com recurso a um instrumento giratório, até se intersectar a camada, fazendo várias vezes e recolhendo a sondagem que sai dessas perfuração, Obviamente já sabíamos àpriori a escala de grandeza da profundidade que teríamos de chegar.
Amostra da sondagem (lama) retirado da ferramenta que se vê na foto.
Buraco resultante da sondagem
Conseguimos chegar à unidade laminares de tsunamites, no caso com dimensões de areia, com uma profundidade pouco maior de 1,5 metros , salvo erro, de profundidade.
No seguimento da saída de campo que o departamento da GeoFCUL organizou ao sudoeste Algarvio fomos visitar, no segundo dia, um dos geomonumentos mais famosos a nível nacional e até mesmo internacional.
Discordância angular Carbónico - Triásico - Praia do Telheiro.
Este geomonumento é pois a discodância ângular entre os xistos e grauvaques dobrados do Carbónico e os grés vermelhos, sub-horizontais, do Triásico, localizado na área protegida do parque natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, na Praia do Telheiro, freguesia de Vila do Bispo.
Infelizmente não conseguimos ir ao "hot spot" do monumento onde são frequentes as excelentes fotos que muitas vezes são usadas de forma didáctica. Ainda que neste local, não haja as dobras perfeitas do carbónico também é muito interessante e não deixa de ser um local espetacular.
Chegada à discordância angular Carbónico - Triásico.
As "discordâncias angulares" em geologia devem-se à não deposição e erosão de material estratiforme, que posteriormente será colmatado com um outro material sedimentar, originando camadas. As diferentes inclinações entre estas camadas fazem um ângulo entre si e daí vem o nome da discordância.
Discordância angular com escala humana nas unidades do carbónico.
Para chegar a este local aconselho talvez um jipe, porém um autocarro também dá e foi o que fizemos, chegamos de autocarro de forma muito original e após contemplar a maravilhosa paisagem descemos a arriba e parecendo formigas ao pé dos blocos que nos dificultavam o acesso ao local chegamos lá e valeu a pena!