quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Um ProtoGeólogo numa Fundição!

  Aceitei o convite de visitar uma fundição, um sítio que sempre quis visitar e sempre me suscitou alguma curiosidade. A geologia de recursos minerais, está de certa forma, relacionada com a área da Metalurgia, na medida em que, grosso modo, o geólogo descobre o minério e todo o domínio da metalúrgica trata da extracção, fundição e tratamento de ligas metálicas (no caso de minério de minerais metálicos). 

Drenagem de metal líquido

  A fundição é o processo, na metalúrgica, de fundir e colocar metal líquido num molde, de modo que quando este solidifica torna-se uma peça metálica com a forma desejada.
  Existem várias fábricas especializadas em certas ligas metálicas, que permitem diferentes tipos de têmpera. 

Minério concentrado de Crómio sem carbono

  O material usado para a fundição na fundição a que fui usava tanto sucata, quando minério concentrado, este último poderia ser proveniente de vários países como África do Sul, México, Brasil ou Canadá. Na metalúrgica os nomes destes minérios concentrados pouco ou nada têm de semelhante com os termos do minério bruto que conhecemos em Geologia. Os minérios concentrados, como o nome indica, já possuem um certo refinamento e possuem percentagens bem definidas e normalmente diferem em termos de carbono pelo que podem ser minérios enriquecidos ou empobrecidos e assim varia o seu preço. De modo geral quanto maior o enriquecimento em carbono mais barato será o concentrado e menor a qualidade (dependente da peça que se pretende fabricar).

Processo de preenchimento dos moldes

  Geralmente estas fábricas funcionam em regime nocturno, dado a enorme quantidade de energia eléctrica necessária para a fundição. Um dos métodos que fábrica que visitei usa para o processo de fundir é via eléctrodos. Como sabemos o preço da electricidade é mais barato durante o período da noite. 
  Este Blogue é direccionado para Geologia e assim sendo não irei abordar todos os passos e processos que envolvem os processos que vi e me foram explicadas em relação ao fabrico das peças produzidas. 


  Deixo um pequeno vídeo (desculpem a minha arte) que fiz, que ilustra de forma muito resumida as partes que considerei mais pertinentes da minha visita. Deste o material antes de fundir, a ser fundido e por fim as peças trabalhadas prontas a entregar ao cliente, que no caso são várias roldanas para a indústria petrolífera numa plataforma em off-shore.

Material fundido excedente do processo de moldagem

Agora... um pequeno desabafo...
    
.... Apenas referir o papel fundamental da Geologia para a sociedade. A maioria das pessoas olha para os Geólogos como sendo o pessoal dos "calhaus" ou "pedrinhas", de certa forma, menosprezado a Geologia. Na verdade, essas pessoas muito provavelmente desconhecem ou sem darem conta que a Geologia está na base de todos (ou quase todos) os bens materiais que dispomos e que muitas guerras são, já foram e vão ser (infelizmente) geradas pela luta de territórios ricos em recursos geológicos. A maioria das grandes potências económicas actuais devem a sua riqueza, grande parte, aos recursos geológicos que possuem. Tomando os exemplos do Brasil, rico em inúmeros recursos metálicos e petróleo (s.l); Emirados Árabes Unidos com a sua economia quase exclusivamente a depender do petróleo, é um dos países com maior PIB per capita do Mundo.   
Ricardo


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Saída de campo a Almograve!

Foi no âmbito da disciplina de Tectónica do 4º ano, ramo de recursos naturais, que fomos visitar a pacata localidade de Almograve, a 200km de Lisboa, no conselho de Odemira, Alentejo Litoral. 
 Saímos do Campo Grande às 8h da manhã e chegamos perto das 11h ao nosso destino. 


Explicações do Professor no Campo.
Durante a nossa visita percorremos uma vasta área ao largo da costa, onde íamos ouvindo o professor e tentávamos interpolar a geometria e evolução das estruturas presentes no terreno. 
 Nas rochas que se apresentavam extremamente deformadas. os dobramentos eram o mais evidente e fascinante. Nunca tinha visto nada assim! Segue-se uma pequena selecção de fotos tirados durante estes dois dias desta magnifica saída...

 Dobra sinforma simétrica 1.1.

As rochas que vimos eram essencialmente metagrauvaques e pelitos, do paleozoico com +- 300Ma (período Carbónico) e era frequente conseguir-se distinguir com facilidade superfícies de fraqueza como clivagem (S1) e S2 muito penetrativo.  

Dobra Sinforma assimétrica 1.2.

Secção de dobras sinforma, antiforma  e isoclinal.

Dobra Sinforma erodida.

Fendas de tracção.

Dobramento do S1 resultando S2 em pelitos.

Superfícies S1 e S2 em pelitos.

Óxidos de ferro em areias do Cenozóico.

Caverna formada no eixo de uma dobra Antiforma.

Gostaria de Agradecer aos meus colegas da saída que de uma forma ou de outra contribuíram para que estes dias fossem tão especiais, em especial ao Diogo Carvalho por algumas fotos, ao Miguel Pessoa (também autor neste blogue) pelo excelente vídeo resumo da saída e claro ao professor que organizou a saída!


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Saída de campo ao Algarve 1º Dia - Tsunamites 1755

Dia 13/05/2016
(Breve descrição da saída)

Numa saída de campo de dois dias ao Algarve com pessoal do departamento da GeoFcul, fomos ver uns possíveis depósitos de tsunami que se pensa ter resultado do mega evento sísmico do tão conhecido sismo de 1755.  O local fica numa zona próxima do mar, num vale  de fundo plano pouco encaixado, na  localidade de Boca do Rio.

Vista de cima do local onde se encontram os depósitos.

 Estes depósitos também designados por tsunamites, caso sejam onshore,  resultam da reformulação de sedimentos causados por inundações da costa por ondas do mar geradas por tsunami, diferenciando-se dos sedimentos envolventes por diversas razões como sendo texturais, mineralógicas, palecológicos, entre outros.
 Ainda não se tem certezas sobre a viabilidade destes depósitos, pois estes podem também ter outras possíveis explicações como grandes tempestades ou eventos erosivos/deposicionais de grande importância. Porém cada caso é um caso e com o devido estudo e colocando todos os factores em evidência poderá haver casos em que a causa tsunami será a mais plausível e assim sendo estas unidades sedimentares podem ser usados para medir o tamanho e data de tsunamis últimos anos e ajudar a avaliar o risco sísmico e o seu período de retorno. 

Local de perfuração

Diversas técnicas são utilizadas para a recolha e observação destas unidades, uma das mais baratas é recorrer à força humana e perfurar, com recurso a um instrumento giratório, até se intersectar a camada, fazendo várias vezes e recolhendo a sondagem que sai dessas perfuração, Obviamente já sabíamos à priori a escala de grandeza da profundidade que teríamos de chegar.

Amostra da sondagem (lama)  retirado da ferramenta que se vê na foto.

Buraco resultante da sondagem
Conseguimos chegar à unidade laminares de tsunamites, no caso com dimensões de areia, com uma profundidade pouco maior de 1,5 metros , salvo erro, de profundidade.  

Tsunamites de areias em lodos/lama.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Saída de campo ao Algarve 2º Dia - Discordância angular

 No seguimento da saída de campo que o departamento da GeoFCUL organizou ao sudoeste Algarvio fomos visitar, no segundo dia, um dos geomonumentos mais famosos a nível nacional e até mesmo internacional. 

Discordância angular Carbónico - Triásico - Praia do Telheiro.

 Este geomonumento é pois a discodância ângular entre os xistos e grauvaques dobrados do Carbónico e os grés vermelhos, sub-horizontais, do Triásico, localizado na área protegida do parque natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, na Praia do Telheiro, freguesia de Vila do Bispo.

Infelizmente não conseguimos ir ao "hot spot" do monumento onde são frequentes as  excelentes fotos que  muitas vezes são usadas de forma didáctica. Ainda que neste local, não haja as dobras perfeitas do carbónico também é muito interessante e não deixa de ser um local espetacular.

Chegada à discordância angular Carbónico - Triásico.

As "discordâncias angulares" em geologia devem-se à não deposição e erosão de material estratiforme, que posteriormente será colmatado com um outro material sedimentar, originando camadas. As diferentes inclinações entre estas camadas fazem um ângulo entre si e daí vem o nome da discordância. 

Discordância angular com escala humana nas unidades do carbónico.

Para chegar a este local aconselho talvez um jipe, porém um autocarro também dá e foi o que fizemos, chegamos de autocarro de forma muito original e após contemplar a maravilhosa paisagem descemos a arriba e parecendo formigas ao pé dos blocos que nos dificultavam o acesso ao local chegamos lá e valeu a pena! 

"parque" de estacionamento 

Paisagem vista de cima da Praia do Telheiro. 

A caminho da descontinuidade.